Redemoinho levanta
poeira, antes de a chuva cair sempre venta mais forte, depois fica um silêncio
agudo quando ela para de molhar a terra, repara quem perde a vista de graça no
horizonte;
Entendo todos os
jogos de azar, todos os riscos e todos vícios, as jogatinas e os caprichos, em
que o prêmio não é mais valioso que o perigo;
Assim é no amor e na
arte, e só quem ama e se expõe se dá conta, que tudo que se diz é por dizer e
tudo que se faz é por fazer, a não ser aquilo que se esconde;
Perdem quantias e o
sossego aqueles que vão à boca da noite tentar a sorte em cima da ruína de
outro alguém,
Perdem as vidas e o
norte aqueles que sucumbem aos prazeres consumidos pra lhes consumirem também;
O artista vive entre
a beira tênue da incompreensão e do estalo raro e breve de ser apreendido,
morre de medo que absorvam sua arte, por isso a rega, colhe e distribui com
tanto afinco;
É como quando eu lhe
olho nos olhos, é como quando eu ando pela casa com o corpo nu, tudo a vista,
as curvas e as linhas, em nada me cubro, de nada me envergonho, mas no instante
dos olhos cruzados tenho medo que repare em mim;
Vomitar o próprio
delírio pro vento levar a quem quiser, desperdiçar versos e notas a quem se
interessar, tudo se faz, tudo se entrega, e não há nada mais envolvente nem
assustador que o ímpeto de alguém se enxergar;
A dicotomia do amor é
ser gênesis e apocalipse ao mesmo tempo, o fruto se oferece e os jogos são
lançados, é o início do estado de criação, o fruto é mordido e o bem o mal vão
conviver, até o dia do juízo, em partilha e negação;
E deve ser por isso
que batalho os amores que mordem meu peito e os mordo literária e literalmente
de volta, talvez assim se responda porque entrego a minha vida a uma criatividade
vã, livre, visceral e torta;
Meu maior medo,
Meu maior risco,
É que sintam o amargo
que compõe meus versos
(ou ser amada de
volta)