sábado, 28 de janeiro de 2012

A bailarina


Se há um destino não posso dizer,tão pouco se é ele que escolhe as pessoas ou se são elas que o escolhem,mas quando ela se levanta ignorando as câimbras e as dores pra teimar um ‘’batment’’ há algo que soa já pré destinado.
E ela se penteia com todo zelo do mundo,sua delicadeza nem deixa transparecer a força que apóia por horas e horas dando piruetas nas pontas dos pés.
Se escora na barra e se contorce alongando seus músculos,nos primeiros passes pra aquecer seu corpo sente já estar aquecido o próprio coração,aquilo que faz,faz por tudo que há em si,dançam alma e postura em harmonia sincera.
E ela cruza a sala girando e girando,olhando pro espelho imaginando a multidão,um pouco mais diz pra si em pensamento, e se contrai,se dobra,se abre,estica,se envolve,fecha os olhos sem perceber,se cair se levanta no segundo que precede,ela já disse a seus próprios limites,que não vai desistir.
Lutando contra a gravidade,cresce de mansinho num ‘’Sissone’’,flutua  linda sentindo o vento no rosto,os minutos passam e ela nem vê.Vai pra casa querendo ficar,insiste em achar que nunca é bom o bastante,mas ela sempre dá o melhor de si,e esse melhor que ela dá é mais que deslumbrante.
Tamanho esforço lhe custa os nervos contraídos,e seu corpo pequeno,por aquilo que ama delineado,se encontra exausto no final de um dia inteiro,a mente ciente de que não será o último.
Uma vez no palco ela deixa de ser tudo que já foi um dia,pra ser apenas ritmo,compasso e melodia,e se mostrar ao mundo no seu formato mais bonito,salta,rodopia,encanta,sem deixar falhar por nem um minuto o seu sorriso.
 Na sua vida ela é mulher e um pouco menina,é irmã,filha e amiga,mas em tudo que é não esconde aquela parte que tanto a cativa,sendo o que tem que ser,ela é bailarina.

(à todas as minhas amigas bailarinas que não tem ideia do quanto ficam lindas com um sorriso no rosto e uma ponta nos pés)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Coisa de pai


São dez e meia da noite , o show começa as onze , ainda da tempo de desistir . Mas se eu falar com ela , vou ser condenado o resto do mês .
Luiza tinha que me entender , que só quero o melhor pra ela , que o mundo lá fora é muito perigoso pra uma menina como ela , que não é preciso isso de botar as asinhas pra fora tão cedo . É lógico que ela jamais iria entender.
É isso mesmo , a gente cria uma filha com todo carinho e amor , presencia a sua primeira palavra, fica bobo de felicidade quando ela dá os primeiros passos, aí então, num piscar de olhos , ela começa com a conversa de que já é dona do próprio nariz e dá de ir a shows sem a gente .
Agora ela já saiu de casa , tudo bem, se eu mudar de idéia pego o carro e vou atrás . Não me deixou nem mesmo levá-la à tal festa . Disse que ia com uma amiguinha ou sei lá mais o que , não gosto nem um pouquinho desse negócio.
Eu podia ir junto , nem ia atrapalhar , ficaria num cantinho sossegado observando , tranquilamente . Será que ela me acha um chato? Não sei , é possível, eu já estou ficando velho , não devo mais servir de companhia pra ninguém . Nem minha própria filha me suporta ,eu sou um lixo .
Não tem nada que preste na televisão , tento ler mas nem que insistisse na mesma pagina por uma hora iria conseguir prestar atenção em sequer uma linha . O que será que ela está fazendo ? Será que está precisando de mim? Ela tem celular ,é melhor eu ligar pra saber se ta tudo bem .
Que barulhada é essa ! Não consegui entender uma palavra que ela disse . Que menina atrevida , mandou uma mensagem falando que ta tudo ‘’beleza’’ mas que não pode falar agora . Que historia é essa de não poder falar agora? Pegasse o celular e fosse pra um cantinho atender o pai dela . Ta precisando de um bom corretivo a mocinha !
E aquele vestido que ela esta usando ta meio curto , tentei intervir, mas  a mãe dela como sempre, fez o favor de desconversar. Odeio ser contrariado na minha própria casa! Queria não ter prometido deixá-la ir nessa bobagem , mas tenho que confessar , a garota sabe me dobrar direitinho. É só ela me olhar com aquele rostinho angelical e pedir com jeitinho, que eu tenho a impressão de que daria a lua, se ela assim quisesse.
Minha esposa não esta nem um pouco preocupada , disse que conhece nossa filha , que ela é muito responsável e que responde à educação que lhe demos . Estou convencido disso , claro que a minha bonequinha é um tesouro , estou mais preocupado é com a educação dos filhos dos outros ! Hoje em dia ninguém tem mais respeito , só de pensar que algum otário pode incomodar minha filhinha, já fico louco .
Acho que já passou da hora de ela estar aqui , deixei ir , mas olha o horário .Vê se isso é hora de uma moça de família estar na rua ! To ficando nervoso.A mas hoje ela ouvir , ô se vai ! E acho bom a mãe dela não dar um pio, se não vai ouvir também .Eu sei que são elas que mandam , mas  tem que lembrar que eu também existo nessa casa.Eu tenho meus direitos poxa, o que eu sou , um homem ou um saco de batatas?!
Estou ouvindo um barulho de carro , acho que é ela, vou abrir a porta . Já sei , vou fazer cara de bravo e mandar ela ir direto por quarto , e amanhã nós conversamos , ela vai conhecer um outro lado meu .
Era ela mesmo , mas que filha mais linda que eu tenho! Chegou me contando como foi, toda animadinha, adoro vê-la assim.Disse que estava com fome e foi fazer um miojo , fiquei só olhando aqui da sala a mulher maravilhosa em que ela esta se transformando.
Só eu sei o quanto me dói não poder acompanhá-la a todo instante.Ela é a coisa mais importante da minha vida, mas no fundo no fundo,  ela sempre vai ser sim, a minha bonequinha .

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Livre pra sentir saudades


Passei boa parte de minha infância aqui nessa cidade.Funcionava mais ou menos como meu retiro particular de férias.
Naquela época em que contava ansiosamente as horas para terminarem as aulas , pra vir pra cá , brincar com as panelas artesanais da minha tia , tomar sorvete liberado , nadar no córrego e andar a cavalo.
Nunca imaginei que eu viesse parar aqui , morar aqui . Muito menos que esse lugar se tornaria berço de tantas coisas essenciais na minha vida. As amizades que fiz , os sonhos que troquei , tudo que pude aprender , o quanto cresci.
Essa cidadezinha que eu costumava dizer ser feita para bonecas. Pela simetria dos detalhes dos casarões antigos , nas pedras sabão, que sempre achei charmosas, e os becos floridos o ano inteiro.
É um outro lado das minhas Minas , um mais quente , mais ‘’apimentado’’. Confesso que nunca me acostumei com a mania do tempero de pimenta e coentro , mas não sei como vivi tanto tempo sem pamonha , queijadinha e desmamada.
Conheci o hábito gostoso de conversar no portão de casa , aprendi a gostar de cavalgada , achei lindo a tal da catira.
Ás vezes deixo o meu olhar se perder cruzando as velhas ruas, os portões enormes e as muitas janelas das casas. Se estas paredes falassem , imaginem só quantas memórias teriam para contar. Um tempo passado que permanece intacto , pelo espontâneo esmero , que se dá a arte de preservar a história de cada coisa.
Coloquei meus pés aqui por motivos que desconheço , mas aquilo que rege meus passos , uma vez determinou que aqui daria continuidade à minha caminhada , por enquanto.
É claro que eu muito tenho saudades das minhas serras gerais e das Lavras, meu cantinho gelado do outro lado do estado. Saudade da cidade das escolas e dos ipês, que eu tanto aprendi a amar.
Assim como também sinto , um pouco a cada dia , a falta do mar. O apreço que tenho pelas ‘’velas do mucuripe’’, a areia branca do Meireles , cenário que se fez a mim verdadeira Fortaleza.
É assim a vida de quem muito anda , e sabe no íntimo que muito ainda se tem que andar.Tatuando meu coração de rostos , minha identidade é formada por gostos e carinhos de cada lugar.
Uma vez ouvi falar , que quando se deixa o coração em um canto , a gente sempre volta. E se é assim , vou quebrá-lo em mil pedacinhos , e deixá-los no caminho , pra nunca esquecer pra onde ir .
Penso comigo ser esse o verdadeiro sentido da liberdade , rodar o mundo até que a saudade ordene a vontade , pra que se volte e depois que se vá.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Voltar pra casa


Na verdade eu não tenho muito,tenho quase nada. Nada ao menos que se possa carregar e arrastar, se não a minha memória.
Não há conhecimento em mim, que não possa ser mudado , e pra verdade absoluta escolhi o amor a Deus , quanto ao resto me conformei com incerteza.
Tem as pessoas , umas que quero bem e estão ao meu lado , outras que já não mais estão. lembrá-las só vai me trazer o que já foram,mas nem sempre o que são,quando tenho a oportunidade,nas distancias escolho o que de melhor tenho pra guardar delas, e o restante deixo empoeirar no tempo.
Parece fria a visão de não saber de um futuro que eu nem sei se virá,mas me parece formidável poder tecer sempre a ilusão de que uma hora tudo vai dar certo, até que me provem o contrário. E isso , ninguém vai conseguir provar.
Penso em todas essas coisas quando se aproxima a hora de retornar. E tenho que dizer que sinto muito , e sinto muito mesmo. Pelo calor que eu não senti por abraços que não pude dar,momentos que perdi,datas importantes, descobertas a que nem cheguei, palavras que nem falei.
Porque eu não estava ali. Por que eu não estava ali? Agora já pertencia a outras histórias, meu coração aprendeu amores dos quais duvida conseguir viver sem, e antes nem sabia que existiam.
Voltar e descobrir que o tempo não parou pra me esperar chegar, que tudo estava de fato sujeito a mudanças , só me faz enxergar o  quanto eu mesma mudei.
Pela janela do ônibus vejo a paisagem ir ficando para trás,pouco a pouco se transforma o cenário, e a minha ansiedade vai aumentando até que eu tenha a impressão de que a velocidade em que avançamos é menor que dos batimentos do meu coração.
E então as placas vão tentando me acalmar , “falta pouco” , digo a mim mesma em pensamento.Nada me distrai, nem coisa alguma me dispersa, a distancia diminui proporcionalmente com as horas que ainda faltam ,mas por dentro ainda sinto 750 quilômetros de saudade.
Fecho os olhos, meus lábios formam uma linha reta, as mãos entrelaçadas. Sou uma personagem dos romances que leio, mas tudo é real e exatamente desse jeito.
E quando solto o ar, alívio, a estrada chegou ao seu destino final. A inércia se quebrou e tudo permaneceu parado até um estalo que indicava as portas se abrindo.
Do outro lado do vidro, tudo que eu mais queria no mundo, chorando e sorrindo ao mesmo tempo, já não importava mais que tudo estivesse diferente, porque aquele amor, a , aquele amor era o mesmo.

Pra ela dizer que sim


Na primeira vez que a viu,ela a causa de todos os seus dilemas,todo aquele ar decidido que ele adorava mostrar se perdeu completamente.Ele soube disso e não fez nada a respeito.
Não sabia o que fazer,queria ser diferente,sem saber porque internamente precisava que desse certo.Pensou em pedir pra ser apresentado,ou em esbarrar nela por acaso,também podia simplesmente dizer um oi e se sentar ao seu lado.O que era melhor?Fez todas essas coisas e o prêmio foi conseguir o telefone da moça.
Agora  novamente já não estava seguro quanto ao que fazer,se ligava pra mostrar interesse,ou se esperava um tempo pra ver se ela ficava curiosa,podia também mandar mensagem que seria um meio termo.Bem,no primeiro dia não fez nada,no segundo mandou mensagem,no terceiro ligou e no quarto fez os três.
Já sabia que a primeira impressão geralmente é a que fica,queria chamar ela pra sair mas não podia se permitir errar,e aí a questão:chamava ela pra ver um filme?levava ela pra uma festa?ou um restaurante?
Pensou bem e levou ela pro shopping,onde assistiram uma comédia no cinema,jantaram em um restaurante lá mesmo e depois foram pra boate que ficava ali por perto.
Passado um tempo que já estavam juntos apareceu mais uma dúvida daquelas.Podia bancar o romântico e pedi-la em namoro,ser mais prático e apenas colocar ‘’relacionamento sério’’ no facebook pra que ela visse e fizesse o mesmo,ou convidá-la  pra almoçar na casa dos seus pais e apresentá-la como namorada.De novo fez os três.Sem nem avisa-la deu a ela o titulo de namorada no almoço em família,divulgou a novidade na internet ,e no fim do dia(como se ela ainda tivesse escolha depois de tudo) a pediu em namoro.
Ouviu falar que a primeira noite era algo importante pra uma mulher.Tinha a opção de ir com ela em algum lugar especial,um hotel chique ou algo do tipo,também dava pra arrumar o seu próprio quarto pra criar um clima e ser mais casual,ou então não planejar nada e deixar as coisas acontecerem.
Bem,ele reservou um quarto no hotel,decorou o quarto com direito a luz de velas e no final da noite ainda a convidou pra ver um filme no sofá da sala,o resto era conseqüência.
Demorava a dar presente,tentava economizar.Porque quando dava,a terrível indecisão entre  dar flores,chocolates ou bichinhos de  pelúcia o forçava a dar sempre um de cada.
Demorou um dia inteiro pra escolher o anel de noivado,e por todo um mês foi em todas as joalherias da cidade pra encontrar o de casamento.
Mas agora era a hora definitiva,e só lhe restavam duas possibilidades,ela dizer que sim ou responder um não.Não importava tanto a cena,o lugar ou o tom de voz  que fosse usar,dessa vez não lhe cabia tantas chances,era apenas uma resposta que mudaria sua vida para sempre.
E só então,se ela dissesse que sim,que aceitava se casar com ele (o que no fundo ele já sabia) as dúvidas poderiam retornar.A certeza que se amavam era o que importava,e no mais era só marcar o casamento a tempo de ele decidir  os mínimos detalhes,só pra que fosse perfeito,só pra ela dizer que sim.


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Palavras Cruzadas


Nem sempre termino tudo que começo,nem sempre digo o que penso,nem sempre consigo concluir um verso inteiro sem rabiscá-lo antes mesmo de colocar um ponto final.
Quer saber,ás vezes eu amarelo,desisto,dou pra trás,mudo de ideia.Quero e não deixo transparecer,sinto e prefiro esconder,saio de casa e volto antes de chegar ao meu destino imaginado.
Tão raras as vezes em que eu realmente consegui fazer tudo aquilo que ensaiei por horas e horas na frente do espelho,e quando uma ideia que pareceu boa continuou assim escrita numa folha de papel posso contar nos dedos.
E no fim sempre são bolos de papel amassados em bolinha espalhados pelo quarto,palavras riscadas e abraços nunca dados.
Poderia até fazer uma coleção com as cartas que nunca entreguei,presentes guardados no fundo do guarda roupa que nunca dei,contos que não continuei,caprichos que esqueci.
Mas por mais estranho que possa parecer eu não me sinto mal com isso.A minha covardia nunca falou mais alto quando não deveria,meus medos quase todos se quebraram a medida do tempo.Não trocaria nada,não mudaria nem um só detalhe de lugar.
Entendo que o que consegui por inteiro,sendo bom ou ruim,de certa forma se completa com o que está interminado,com o que me resta,o que ainda falta descobrir.
Um dia ouvi que promessas são como jarros de barro,fáceis de fazer e fáceis de quebrar,mas por sorte ou por consolo,as juras foram feitas pra serem eternas.Hoje juro que os sonhos que dilacerei foi pra dar a chance a novos que estavam por vir,e os pedaços que juntei do que chamei de amor estavam incompletos sim,mas a espera da peça certa que está por vir.
Afinal,a morte de um sonho,se dor é dor em vão,porque os sonhos não morrem eles só vem e vão.Peço as sinceras desculpas às palavras que troquei e frases que rabisquei até chegar esse final que pra mim tem na verdade gosto de começo,deixo à elas uma frase de Fernando Sabino que traduz a verdade de que “no fim tudo dá certo,se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim’’. 

domingo, 15 de janeiro de 2012


Eu não sei quem você é, de onde veio, o que te preocupa, o que faz. Não sei seu gênero,seu nome,sua cor,credo ou convicção. Mas eu tenho certeza de um coisa: você tem um amigo.Ou alguém que assim considere,alguém a quem involuntariamente você deseja o mesmo bem que o seu próprio. No fundo você nem tem escolha quanto a isso, não há no mundo quem não queira ser feliz, foi comprovado, é impossível ser feliz sozinho.
No dicionário o conceito de amizade é o de um sentimento fiel de afeição, apreço ou ternura entre as pessoas.Cada um tem sua própria definição do que é, como cada forma de sentir e demonstrar varia de pessoa pra pessoa.
Mas independente do que quer que seja,o papel do amigo é indiscutível,e dentre todas as funções, tem uma que merece destaque: ser feliz com você sem precisar se dar conta disso.
Tem aquelas pessoas que estarão sempre do seu lado, vão compor sua rotina, influenciar suas decisões,criar histórias em que vocês sejam os personagens principais, fazer parte do que você é um pouco a cada dia.
E também tem aquelas que já foram assim mas o tempo ou a distancia se intrometeram entre vocês. Então elas são as lembranças gostosas de ter, as saudades, ás vezes o pedaço que você sente te faltar.
E tão importantes quanto esses dois grupos de pessoas são aquelas que você vê raramente mas adora conversar,aquelas que não estão tão presentes mas possuem a capacidade de te fazer sorrir. O carteiro que sempre te dá aquele bom dia animado, alguém que faz o mesmo caminho pra casa que você. Quem não precisou de muito convívio, nem tanta intimidade, mas você gosta do mesmo jeito.
Não deixe de considerar a simpatia gratuita que você sentiu por certas pessoas desde a primeira vez que as viu. De abraçar com gosto quem talvez você nem acredite que estará no seu futuro,mas de alguma forma,faz parte do seu presente.
Amigo não é somente aquele que está junto com você o tempo todo, é também aquele com quem você sempre gostaria de estar.
E não se iluda com provas de confiança,demonstrações de afeto, momentos difíceis e outros descontraídos. A vida é algo precioso e breve de mais pra ser levada em julgamento por qualquer virtude que apareça ou erro que aconteça.
As pessoas sabem ferir, e se ferem.Juntas aprendem a amar,e se amam. Um dia você acaba descobrindo que o verdadeiro sentido da amizade não é fazer pelo outro o que ele realmente faria por você, mas sim o que você gostaria que lhe fizesse de volta.
Se sinta sortudo por conhecer tanta gente que merece o lugar que tem em seu coração e ainda por aquelas que por momentos sabem fazer valer o apreço que lhes tem. Por trocarem sem nem ver promessas e sonhos que mais tarde viram marcas,marcas que são o que você é de verdade, e também o melhor que poderia ser.

Ensaio sobre a felicidade


Geralmente quando a gente convive muito,  e por muito tempo com algo, sem querer deixamos de reparar nos detalhes , de prestar atenção.
Desde que nasci estou com algo , que vou ter que confessar, é tão constante e gratuito , que me passa despercebido. Mas quando se ausenta, me tortura a fala e me deixa sem rumo, estou falando da felicidade.
Ás vezes ser feliz vem de coisas tão simples que outro dia me perguntei  do que mais me fazia feliz , e fiquei sem resposta. Fui procurar saber se alguém sabia .
Perguntei a um amigo o que o fazia feliz , e ele disse que era o fato do time dele estar liderando o Brasileirão. A atendente da loja falou que era rever o namorado que morava longe nos fins de semana . A costureira afirmou que era quando os netos iam passar as férias em sua casa.O carteiro contou que era reunir a família inteira para comer coisas gostosas nas festas de fim de ano.
Liguei os fatos e vi que eu já tinha reconhecido a felicidade antes , no sorriso de uma criança que ganhou sua primeira boneca , na mãe cansada e agradecida que repartiu o frango assado pra cada filho antes de dormir.
Também vi o que estava procurando no choro da mulher ao abraçar a irmã que não via há anos, no grito do atleta ao cruzar a linha de chegada, no brilho dos olhos do esposo ao saber que fora promovido a pai.
Todas essas felicidades , mesmo alheias , me afetam , tem o poder de me contagiar sem fazer esforço, me parece mais fácil ficar alegre ao saber que vitórias acontecem todos os dias nas vidas das pessoas.
A minha própria felicidade já é um pouco moleca , tem gosto de sorvete de cereja com cobertura de morango, beijo na bochecha de boa noite , balinha de mel e pasta de dente de hortelã.
É mais ou menos como a sensação de uma surpresa boa , passar um dia inteiro vendo filmes debaixo do edredom , tomar banho de chuva, matar a saudades de quem se gosta , conhecer um lugar bonito.
Tem cheiro de terra molhada, café passado na hora, creme de aveia e colônia de lavanda. Se parece com o por do sol no alto da serra , com o azul ínfimo do mar , as cores do céu de Brasília , a vontade de tornar um momento , e quem esta nele , eternos.
Acho que é justificável ser feliz , e ficar triste também , seja por um motivo bobo ou não , nem tudo deve ser medido pela sua seriedade , o que há de mais lindo no mundo pode nascer de uma besteirinha do acaso .
Mas hoje eu tenho a certeza , que por todas as maravilhas que acontecem todos os dias , seja por conquistas ou apenas porque a primavera está chegando e os ipês já começam a florir , enquanto isso existir eu me permito ficar triste , se for o caso , mas sem deixar de ser feliz , que isso sim é verdadeiro.

O que somos afinal


Cada um tem o seu modo de definir o que é . Você é o que você come , o que você veste , o que você faz ; são tantas definições que até fico perdida.
Mas pensando bem,acho que falta alguma coisa nisso tudo,quantas vezes temos idéias e atitudes contrárias ao que acreditamos e quantas vezes mudamos de concepção sem nem perceber.
É natural trocar de pensamento,experimentar algo novo,descobrir que o que lhe era tudo, hoje pode não significar mais nada.Me sinto segura ao afirmar que a vida é mesmo uma eterna metamorfose.
Mas o que somos afinal, se amanhã já seremos algo completamente diferente?O que sobra de nós depois que as fases passam e os sentimentos se transformam?
Acho que somos as melhores lembranças que temos,somos as pessoas sorridentes nas fotos de família,as músicas que gostamos de ouvir, não porque são as mais tocadas da rádios, mas porque nos remetem algum momento bom. Somos as roupas velhas  e fora de moda que usamos nos domingos pra nos sentirmos a vontade, as receitas que inventamos e não contamos pra ninguém.Somos as vitórias dos sonhos que concretizamos,a derrota dos que descartamos , a conseqüência de todos que tivemos, pois foi assim que amadurecemos.Somos um mundo inteiro pra sermos no fim, um entre tantos e apenas mais um.
Antes de sermos o nome pelo qual nos chamam, já éramos pessoas , e antes  de sermos donos de nossos próprios atos, já éramos possibilidades. O que capturamos do mundo pra que nos compusesse, o que tatuaram em nossas personalidades. No fim é mais ou menos como se fôssemos uma colcha de retalhos,com todas as nossas caras e bocas , amores e segredos emendados.
E isso ninguém pode tirar de nós se não o tempo, pra um dia em que deixarmos de ser para “termos sido” alguém. Exatamente por termos um prazo indefinido de validade é que se torna nossa obrigação sermos o melhor que pudermos , e já que o jeito é ser , que sejamos felizes que isso já basta.


Os dois estranhos


 Os dois estranhos, pra quem acha que no amor e na guerra vale de tudo eles são um casal perfeito, nas suas falhas mais graves e faltas por detalhes, eles vivem entre tapas e beijos. Parecem seguir a filosofia de que toda forma de amor vale a pena, talvez sados-masoquistas, se aceitam ser assim como um dilema.Um dia já estiveram juntos e agora estão sem concordar , se acham e se afastam a todo tempo , se querem e não podem confessar. Quem prestar atenção vai ver que ela acha ele o máximo e não da o braço a torcer, e quem perguntar com jeitinho vai saber, que ele gosta dela e não sabe esconder .Ela da uma de durona, no estilo independente, mas na verdade é meiga e um pouco carente, ele é todo simpático, tem fama de carinhoso , mas pra ela finge que é rancoroso . Se cumprimentam de beijinho quando se vêem ao acaso , trocam comentários secos como que desconhecidos,todo mundo acha graça pois já sabem da verdade, eles sempre se encontram escondido.Toda vez que eles combinam de conversar ‘’só pra saber’’ o que o outro tem feito e o que pretende fazer , eles brigam e discutem , se ofendem e se iludem,quando dizem que não se trata do contrário . Ela sempre chora se ele diz que esqueceu,e ele faz careta se ela finge não se importar , mas no fim eles se abraçam e como que ensaiado tudo termina num beijo de tirar o fôlego .
E eles se amam ali mesmo onde estiverem , seja dia ou noite , calor ou frio , e se completam como que uma só coisa , resistir parece inútil e negar quase impossível . Se apertam e se olham com carinho , entre ânsia e romance a conclusão é algo incrível .
Talvez um dia eles se acertem, e voltem a caminhar de mãos dadas por aí ,entre sorrisos bobos e clichês . Ou quem sabe eles se esqueçam, e entrem num acordo que foi  depois de tantas outras enfim a ultima vez . Ninguém sabe responder ,e eles já combinaram, que só pensarão nisso se necessário.E nessa constante incerteza existe uma certa beleza , um amor diferente de outros demais . Se cuidam de uma forma engraçada e nessa vontade disfarçada vivem um dia de cada vez , quem se envolve nessa trama complicada torce pra que ainda nessa vida , eles toquem na ferida e prometam jamais se separar .
Porque é ele quem faz o coração dela bater forte , e ela é dona dos pensamentos dele , e além de tudo eles até que combinam , mentira é dizer que eles não tem nada haver . São opostos engraçados , os dois amantes complicados , um caso que vale a pena passar a diante , espero um dia contar de um final bem mais feliz em um futuro não tão distante. 

Desde que me lembro sempre fui uma espécie de ima para situações embaraçosas , tanto que já até aprendi a conviver com isso com o passar dos anos e claro que ficam algumas lembranças traumáticas em mente . Quando eu tinha uns seis anos e cursava o terceiro período da pré escola meu colégio tinha uma regra com o lanche das crianças , tinha uma espécie de cardápio a semana toda e na sexta era liberado levar refrigerante , salgadinhos, esses venenos deliciosos . Em uma sexta feira lá ia eu abrindo minha lancheirinha , esperando uma coca cola e quando ver minha tia tinha colocado por acidente uma Skol no lugar do refri , nunca me esqueço disso e nem dá cara que a professora fez .Em outra ocasião anos mais tarde fui almoçar na casa de um amigo meu , a mãe dele fez os pratos favoritos dele , lasanha a bolonhesa , carne moída , feijão com calabresa  e logo que eu cheguei ela já foi toda simpática falando que quando meu amigo disse que teria visita ficou até mais animada pra cozinhar , o problema é que meu amigo esqueceu de avisar pra mãe dele que eu não como carne . Coloquei arroz no prato e uma folha de alface e elogiei a comida dela por horas , difícil mesmo foi ter que explicar na mesa diante da família inteira que eu não era alérgica à proteínas ou sei La mais o que , era simplesmente uma opção mesmo o que com certeza eles não devem ter entendido , são a família mais fofa e carnívora que já conheci na vida.
Quem é que nunca se esqueceu do aniversário daquele primo ou não atendeu o telefone xingando alguém por ter demorado a ligar até perceber que quem está na linha não era quem você estava esperando , quem é que nunca foi atender a porta de casa de pijama , saiu pra rua com pasta de dentes no queixo , deu um abraço apertado em um desconhecido porque ele era idêntico ao seu amigo  de costas.Quem é que nunca deixou escapar um segredo , fez o comentário mais idiota do dia , criticou uma roupa que a pessoa do seu lado acabou de comprar . Na hora a boca fica seca , o estomago se contrai e da vontade de cavar um buraquinho na terra e passar La o resto dos dias , algumas mancadas são piores e toda vez que a gente vai contá-las para alguém sempre faz careta e fica “como eu pude ser tão pateta!” , outras são mais leves e vai ser impossível não rir ao se lembrar delas . Mas é exatamente aí que está o  interessante da coisa , o senso de humor, a capacidade de rir de si mesmo é uma dádiva pra poucos , pois afinal todo mundo erra , todo mundo sabe muito bem como arranjar sarna pra se coçar mas não são todos que conseguem fazer daquele dia ruim um dia pra ser lembrado não por inconveniências mas por fatos engraçados e que deixam a gente um pouco mais esperto . Não sei você , mas pra mim rir é o melhor remédio e assim eu levo a vida com todas as peças que ela tende a me pregar  de um jeito mais alegre , se o bicho pegar , eu rio pra não chorar .

Como a minha cara foi parar no seu jornal


Ás vezes me pergunto se as pessoas não tem a curiosidade de saber como, de uma hora pra outra , uma menina de rosto “quase” infantil ( quase, por favor) surgiu no meio das duas outras colunas semanais , com idéias meio absurdas e inusitadas.
Me sinto no dever de explicar a razão de minha foto e meus dilemas estarem uma vez por semana nitidamente impressos nessa segunda página.
Acontece , que desde que aprendi a escrever ( o que aconteceu um pouco antes de meus coleguinhas de turma), eu sou assim. A intenção naquela época era conseguir entender os joguinhos de lógica que minha tia fazia , insisti até ser alfabetizada por ela , o que nenhuma de nós imaginava , é que o meu forte não eram as palavras cruzadas ou os sete erros nas figurinhas , eu estava destinada às crônicas.
Tenho que dizer que pulei muita corda e muito muro, fugi inúmeras vezes da escola, passei horas assistindo desenho animado,brinquei de boneca e cortei meu queixo sete vezes ( o que com certeza não fiz  rezando). Mas sempre arranjava aquele tempinho pra recorrer ao vício , os livros .
Eu tinha uma coleção considerável de poesias , poemas , histórias e crônicas , quando resolvi ouvir o conselho da minha mãe e de uns amigos , e fui bater no portão da redação do jornal (na verdade eu apertei o interfone).
Lá estava eu com o cabelo repartido de lado , uma pasta com textos numa mão e a outra no bolso , esperando alguém vir falar comigo.Fiquei nervosa quando me pediram pra mostrar o “material” , mas a simpatia com que fui recebida aliviou a tensão , e até hoje me pergunto como pude conter minha euforia quando ganhei dois ingressos pra festa de comemoração de um ano do jornal e uma coluna todinha só pra mim.
Agora imagino meu trajeto ao longo da semana: na sexta mando a crônica , na segunda o fechamento da edição,quarta alguém lê enquanto toma um café da manha e na quinta provavelmente , está a minha cara na gaiola do papagaio, na gaveta empoeirada, ou na área do cachorro fazer suas necessidades , imagino cinco gotas de “pipi-dog” em cima do meu rosto.
Mas tá tudo bem , afinal , não espero que ninguém além do pessoal aqui de casa guarde quatro jornais por mês . Jornais servem para ser lidos e instantaneamente descartados, é a ordem natural das coisas.
O que não é descartável são as risadas que consigo arrancar das pessoas, os comentários ou perguntas que me direcionam , a mensagem que capturam , pois era essa a intenção enfim, o que ninguém imagina é que toda semana está impressa também uma parte de mim , por sinal , a melhor parte que consigo oferecer ao mundo e é por isso que vou sempre gostar de saber o que você achou disso tudo.

Aquela coisinha chata chamada ciume


Entre todos os sentimentos complicados que existem tem um que me intriga mais.  Talvez por ele misturar outros tipos de sentimentos que geralmente não combinam muito , ele vem  espontaneamente sem que seja necessário nem mesmo se dar conta dele , ás vezes é como um sinal e outras vezes como confusão . Acho que já deu pra perceber  que eu estou falando de nada mais nada menos que o ciúme.
O ciúme é aquela coisinha chata e inconveniente que aparece nas horas mais inadequadas e espalha o caos por onde passa. A bagunça deixa rastros visíveis e aí já depende do temperamento do pobre coitado atingido , uns fazem beicinho , outros batem o pé no chão , tem gente que sai do controle e perde a cabeça mas na verdade seja qual for a reação, é certo dizer que muito dificilmente passará despercebida.
Infelizmente é impossível fugir a regra , é da nossa própria natureza criar aquela velha idéia de posse por tudo aquilo que nos cerca . Sem ver nos sentimos donos de tudo , do que é nosso , do que já foi e do que gostaríamos que fosse , aí está o maior dos erros , como poderíamos ousar reclamar nossos direitos se não conseguimos mandar nem no que sentimos .
Vou confessar que em muitas das circunstâncias é apenas o mais obvio egoísmo , pode ser remorso ou o mais legítimo medo . Ridículo é pensar que alguém é insubstituível , insuportável encarar que cada um tem o seu tempo e que talvez o seu seja um pouco mais lento que o padrão, ver o que não lhe servia se encaixar perfeitamente em outra pessoa é um golpe bem direto no ego de qualquer um.
Não inventaram ainda um anti ácido capaz de aliviar o aperto que dá no estômago e até hoje não ouvi falar de um médico especialista em dor de cotovelo.Sintomas claros como roer as unhas , virar as costas e ter um impulso de dizer coisas indelicadas , cara feia pra mim não é fome bem sei que tem outro nome , sorte que o orgulho no geral não permite dizer.
O pior é quando por ventura a nossa cara nos dedura , aquela expressão de pateta estampada bem no meio da testa , feliz das crianças que ainda tem o direito de chorar e pedir o colo que era “seu” , nós temos que nos conter a inspirar , expirar e forçar um sorriso, pra não agravar a situação toda .
Todos querem a fórmula do amor pois honestamente suspeito que queiram mesmo é a formula do ciúme , o amor tem sangue frio e é sólido já o ciúme deixa o sangue fervendo e é volátil , pode vir sutil e pode vir pra acabar com a graça do dia  .

Pra te convencer


Não sei se você tem plena consciência disso,mas eu tenho cinco linhas pra prender sua atenção. É estranho que seja assim, mas ou eu te convenço de ler isso aqui antes de mudar de parágrafo ou todo meu esforço estará perdido.
Nunca  entendi ao certo porque as pessoas dão tanta importância aos começos.Ora, pra mim a primeira parte de alguma coisa , é simplesmente a primeira parte dessa coisa! Só isso,simples.Mas,de qualquer forma se sinta a vontade para discordar,não quero exatamente que você compartilhe da minha ideia,estarei satisfeita se você já se ater a ler essa crônica até o fim.
Adquiri recentemente o hábito de comparar ‘’composição’’ com ‘’ condução’’.Traço linhas imaginárias e chego até a enxergar os olhos de alguém percorrendo-as.Entenda,eu tenho que fazê-lo ir até o final,e o conceito de bom ou ruim já entrego ao seu total julgamento.
É muito chato pegar um filme na locadora,acompanhá-lo avidamente ,nutrir suspense e expectativas pra no final morrer de raiva, ou porque algo ridículo acontece (ou pior) se nada acontece.Se tiverem me indicado o tal filme, eu xingo mesmo. Onde é que já se viu fazer alguém acompanhar a história toda pra depois vir uma conclusão patética!
Parece mesmo que a ordem,do que quer que seja,faz toda a diferença.Até o caos deve seguir lá o seu critério de começo,meio e fim, antes,agora e depois.
Mas sabe,uma coisa que sempre admirei nas pessoas é o fato de serem,haja o que houver,imprevisíveis.Essa instabilidade é que permite as surpresas,a adrenalina de no fundo nunca saber como é que vai ser.A capacidade de superação,de começar mal mas reagir a tempo.E  até mesmo de perder o embalo,e não ter sido dessa vez.
Isso é ser único,é ter uma identidade singular,que se transfere ao restante do mundo. Momento nenhum se repete e nenhum ato será exatamente igual a um outro.
Você pode assistir a mesma peça duas vezes,mas o espetáculo não há jamais de ser idêntico em sua reprodução.Ainda que as falas e as cenas sejam as mesmas,só o fato do público ser composto por outros rostos já muda tudo.
E talvez seja por isso que depois de ter dado a partida,me propus a escolher a dedo cada palavra que usei para trazê-lo aqui,perto de um ponto final que lhe abrirá espaço pra dizer o que achou.
A sua própria opinião me é um mistério,não sei o que você pensa do tempo,muito menos o que pensa da minha opinião do mesmo.
Mas se você chegou até aqui,se parou de fazer o que estava fazendo antes pra ler esse dilema repartido em três partes,posso dizer que consegui fazer o meu papel.
E o seu voto,seu palpite,sua colocação,serão sempre algo único,do qual eu jamais terei certeza.           

QUANDO EU SOU O SUJEITO QUE ESCREVE


De todos os verbos que conjulgo todos os dias e de todos os atos que pratico por rotina , ‘’escrever’’ é o que mais me intriga , e o que mais me consome.
Porque quando eu me sinto , debruçada por sobre uma folha de papel com todos essas linhas vazias , eu sou o sujeito que pratica a ação, e , de um jeito ou de outro , sou também o que sofre a mesma.
Cansando o lápis com símbolos que chamam de letras , feitos para formar palavras, que por sua vez formarão frases. Mas acontece que o sentido , a coerência e o contexto , são todos por minha conta e risco.
Seja minha voz ativa, passiva ou reflexiva,cabe a mim não perder o enredo. Escolher o jeito certo para dar o começo, persistir fielmente e não pecar pelo desfecho.
Na primeira pessoa, eu faço , mas na segunda e na terceira também não há diálogo sem mim. Seja eu narradora , uma multidão inteira, homem ou mulher ou apenas espectadora .
Escrevendo minha personalidade é anulada , e como que num passe de mágica , é transferida para um conto , uma história , um crônico acontecimento , que , fora desse texto, nem pareceria merecedor de tamanha importância.
É isso que venho feito nos últimos anos , mais que nunca nos últimos meses. Pegar o simples e enfeitá-lo,mostrar que muitas vezes o detalhe mais bobo que passa despercebido , pode ser o clímax, pode ser a peça que falta para dar sentido.
Porque ao contrário do que acham por aí , nós não somos máquinas.E as experiências por quais passamos diariamente tem lá o seu valor.
É impossível ser sempre igual , sempre o mesmo , sempre perfeito , e até o erro de repente pode ser algo que se valha passar a diante.Tudo depende do modo como se conta a coisa toda , como mostrar a alguém que o ‘’normal’’ esconde milhares de motivos pra ser engraçado , pra ser bonito , e pra deixar uma mensagem.
E quanto a mim , nesse papel que assumi por distração e por instinto , pois escrever é ainda mais que meu maior vício , é uma paixão sincera disfarçada de capricho.
Nem sempre sou feliz em todas as minhas conotações e nos meus comentários , apenas falo o que penso , e, que me desculpe a gramática , mas pra mim , pensar é um verbo indefinido.