A primeira vez que alguém me chamou de senhora, sem ser pra
fazer piada ou ironia, ao telefone ou para me oferecer algum serviço, causou-me
súbito estranhamento. Meditei o título até me dar conta de que era pura questão
de respeito, a verdade absoluta me alcançou sincera: eu era senhora de mim
mesmo.
O que me faz senhora não são os anos que não acumulo, visto
a pouca idade que tenho, pois se partir deste mundo agora, já partirei senhora
do mesmo jeito. Ser senhora não é um vocativo que pra atingir necessite um
senhor primeiro, de um par que nem sei se foi escrito ou se se escreverá de me
incluir, sozinha já sou um ser inteiro.
Fui senhora desde a concepção, desde os primeiros caracteres
que definiram meu formato neste plano como ser vivo, humano, de gênero feminino
e livre pensamento. A primeira vez que gozei da sorte de respirar oxigênio sem
o auxílio de uma outra senhora que me deu alento.
Dona dos meus erros, portadora de mil singulares defeitos,
sujeito ativo e passivo dos próprios êxitos, portadora única e intransferível
dos pertencentes atos, digitais e sentimentos.
Fui senhora na primeira vez que me entreguei de corpo, mente
e alma ao afeto de outro ser e dediquei-lhe atenções e apreço, e na última vez
que veio-me o amor chacoalhar o balanço de meu coração, silhueta e pensamentos,
senhora de mim permaneci sendo.
Só ao meu comando é que se movem estes pés que me sustentam
de estradas, lutas e horizontes que jamais outro alguém poderia percorrer por
mim e à minha maneira . As batalhas são únicas, a combinação dos genes
irrepetível, a posse da matéria individual, e a alma poeira de astros e de luz
que é comum a todos os seres, e dentro de um, forma o indivíduo.
Não abro mão de ser senhora dessa vida com o qual o criador
presenteou-me por um tempo.
À todas as mulheres a quem esta mensagem chegar, servir,
fazer morada: queridas, as senhoras são destruidoras
mesmo. Nós somos. Todas nós.
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