Pitoresca a hora que me convida a vir fazer um resumo de si.
Hora de nada. Manhã de quinta feira. O dia mal nasceu e já vem pedindo
biografia, ousadia do cansaço, teimosia do impulso que faz a gente depois de
abrir os olhos dar um salto do colchão.
Eu olho nos olhos da juventude, beijinho no rosto, chega
aqui dá um abraço, cês foram ou vão pra algum protesto hoje? Rola um trampo,
ela posta na plataforma virtual, ele dorme, ele não sabe, o gosto amargo na
boca não impede o sorriso, mas meus queridos, ta todo mundo meio que sei lá.
Eu queria ter começado falando da crise de
representatividade da minha geração, pra em entrelinhas já me esquivar de
qualquer figura de vir a representar alguém. Eu mal represento a mim mesma.
Será que o pacato cidadão é reflexo do pacato repetir dos fatos?! Meus queridos, democracia é esse role em que
a galera pode dizer o que quiser, e depois sair de fininho. Porque se for muito
além disso toma spray de pimenta na cara, porrada de polícia, represália de
catedrático latidor de presepada, ou o que dói quase que igualmente: um
silêncio que só mostra o quanto são nossas palavras ignoradas. Enfim. Tô
representando ninguém não viu meus caros, mas se tem alguém aí sabendo a chave
pra sobreviver a um dia depois desse murro na cara, por favor, passa receita
aí, manda whats, explica como é que faz.
Uma manhã cheia de ressaca, o circo se armou e se desfez, a
gente já sabia quem ia sair com a faixinha de honra. Circo de interior mesmo, ta
ligado? Aqueles em que os números são sempre exatamente os mesmos, e o palhaço
é ao mesmo tempo o mágico misterioso, o contorcionista e o ilusionista e a
mulher barbada na verdade é um homem. Mas quem mais trabalha e menos ganha são
os bichos. Tem gente que chora, tem gente que ri. Aí no final vem um palhaço
encher a bola do prefeito. Se der pra entender, que se entenda, se não der só
suponha, se tiver coisa melhor pra fazer faz esse favor pra nós. Enquanto
isso a platéia segue sendo enganada. E os animais seguem retornando pras jaulas
pra serem obrigados a repetir atos insossos em breve. Voto obrigatório. O
semblante dessa senhora apareceu quatro vezes numa urna diante dos meus olhos,
meus chegados sabem que não votei nela nenhuma das vezes, mas a cara desse
senhor pingüim eu nunca vi, e pasmem, nem a maioria que decide. Ninguém sabe.
Ninguém viu. Não dá pra concordar. Não perguntaram a ninguém. Agora rodopia. Ri
pra platéia e inclusive dela. Volta pra sujeira e pra miséria por detrás das grades escuras. Que golpe mais baixo, que ato barato. O cidadão é um bicho realmente muito
desgraçado.
Sinceramente já ia falar que pudera partilhar desse pano que
puseram a força nos olhos das pessoas, mas pensando melhor, ver essas coisas
esdrúxulas a lá livro de história ainda é melhor que ser cego. Saber dos perigos e do ultraje dos últimos
feitos é melhor que o alívio enganado que escapole do peito de uns.
Mas ah, a gente continua, vida que segue, o show tem que
continuar. Pelo visto ser brasileiro é viver com a cara cheia de bolacha. Escolho
por mim viver de joelho dobrado que fé nunca é demais, é a salvação e somente
ela.
Cuspi do peito encabulado desaforo guardado, a gente reage
como pode, ás vezes botando a boca no mundo.
Mas só pra ressaltar eu
não represento ninguém. Ninguém me representa. Se revezam os palhaços, os
domadores sádicos de leões, mas o espetáculo é o mesmo. O sentimento é o LUTO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário