quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Gratidão

Sabe quando você é criança e perde sua mãe de vista dentro do supermercado lotado e se sente completamente desesperado, não sabe se chora, se procura mais um pouco, se nunca mais vai vê-la? É mais ou menos assim que me sinto ás vezes. Mas nada haver com mães, muito menos com supermercados, nem mesmo com multidões, mas com certeza, e com toda possível, tem a ver com este medo de estar perdido (mesmo quando a razão fosse completamente capaz de lhe mostrar, que, na situação hipotética sua mãe jamais sairia daquele lugar sem você, e na vida real nada do que é seu ou do que realmente importa lhe deixaria pra trás, assim a mercê da sorte, mais por instinto do que por qualquer coisa, só porque, o que é seu tá guardado, ninguém tira).
Sendo bem sincera, não me sinto muito em plena capacidade de dar conselhos aos outros, e acabei de reparar que foi mais ou menos o que fiz a minha vida toda. Sempre tentei ouvir as pessoas quando o assunto eram elas, tentando ao máximo entender suas posições e seus porquês, se você quer mesmo saber acho que sempre fui boa com as pessoas_ mas devo dizer, apenas quando era sobre elas_.
Quando o assunto era eu, nossa! Melhor ter cuidado. Quase sempre na defensiva, ou mais sensível que o necessário, precisando usar de palavras no mesmo tom ou de silêncio para fazer entender que eu não queria saber, ou que já sabia demais. Sempre quis ter as rédeas da minha própria vida e quantas vezes eu ouvi ‘’ você devia fazer isso’’, ‘’ você não pode fazer assim!’’ ‘’ isso vai te fazer mal, está errado, é pouco, é muito, é demais!’’
Então foi isso que eu fiz, aceitei as pessoas que me faziam receitas de como devia viver minha vida, entendendo que agiam assim porque se preocupavam comigo, fui grata, mas confesso que me chateei muito por dentro com isso. Aquilo de entrar por um ouvido e sair pelo outro nunca foi muito fácil pra mim, sem querer eu filtrava, quase sempre até sem concordar, eu guardava parte do que me falavam, não seguia, mas aumentava um pouco mais minha confusão.
E daqueles que pouco se manifestavam, discretos, cuja as opiniões eu ouvia sim, mas mais quando solicitava, me aproximei, e tendi a achar que o bem que essas pessoas me queriam, não era de fato maior, mas era mais leve.
Bem, eu descobri que estava enganada, a leveza tem de estar em nós e apenas em nós mesmos. Quem tornava penosa as lições de moral ,e  os comentários construtivos, ou mesmo os que doíam, fui eu esse tempo todo! Ainda guardo pra mim muita coisa, antes de jogar fora ou estar pronta pra saber o que fazer, mas descobri dentro de mim um lugar onde isso não me deixa mais tão pesada e nem altera o que sou. As pessoas queriam me ajudar o tempo todo, e eu achei por muito tempo apenas, que eu era um pouco ruim, um pouco oca, um pouco vazia, e quando a gente se acredita assim, principalmente sem ser de verdade, o vazio que criamos nos engole. Tá vendo só? Minha mãe provavelmente deve estar ali no final da prateleira procurando uma lata de achocolatado, e eu aqui achando que o estabelecimento vai fechar comigo dentro sem ninguém.

Eu só quero fazer as pazes com a vida, e sei que essa reconciliação vai vir aos poucos, sem cobranças e sem pressa. Tem cores , pessoas, cheiros e fatos que fazem a gente querer prolongar o tempo neste mundo. Sempre soube, mas mais que nunca , vi a abundância disso tudo que tenho pra desfrutar, e me oferecer como sou, tonta, dramática, medrosa... feliz. Se feliz não estou, alegre me permito ficar, e sei que quando a felicidade retornar, estarei enfim pronta pra recebe-la de braços abertos.

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