segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Flor de jabuticaba

Me deu a ideia o Vagabundo Iluminado do poder que tem certas brisas, a me contar um caso de vento lá do sul de Minas, que o levou a recordar os tempos de menino, brincando a vontade no meio do mato. Que engraçado é este acaso. Bem nessas épocas em que meu pensamento vira e mexe volta lá pro velho quintal da casa que eu morei.
Andei pensando nas flores brancas das jabuticabeiras e no zunido das abelhas, dezenas delas, fui lembrar que gostava mais do tempo das flores que das próprias jabuticabas, mesmo que não desse pra subir em cima das árvores, entupidas de insetos. Tudo branco, clima ameno, que bonito era o meu jardim, e pelo menos uma vez ao dia se podia ouvir: Ai! Tina, trás o sal amoníaco pra mim, fazendo o favor, pisei no marimbondo de novo! Nunca me preocupei em calçar os chinelos pra brincar, tem certo tipo de dor que a gente não se preocupa _ e nem deveria_ em evitar.
Mas a coisa não para por aí, sábado a chuva fez que caia dia todo e não caiu, assisti aquela relutância de pernas pro ar dentro do quarto, até me resolver que chovesse ou não eu ia fazer meu corpo correr um pouco pelo parque. Encontrei o vizinho, joguei um pouco de fumaça pra dentro dos pulmões, é raro quem concorde, mas este é o estado de consciência que mais me dá vontade de correr por aí.
Chuviscou um pouco no principio e isso também atinou umas sensações já velhas conhecidas, o pingo da chuva em cima da ponta do nariz e só quem foi criança um dia pra entender o valor deste toque. Tão logo veio o vento levar pra lá nuvens de chuva e sabe-se lá o que mais, novamente experimentei o gozo de um rápido tele transporte, viajei ainda mais pra longe e me vi no Parque Margarida, lá pra lá do mar nórdico, a correr do mesmo jeito nada sóbrio, de quem se movimenta porque o impulso é o que salva e nada mais.

Corriam os pés e o pensamento e eu agradeci uma vez mais ao vento, por estes encontros que propõem entre vadios que são amigos das palavras e da gente, já que há dias em que basta-me de fato o presente, já  em outros vou pedir carona a alguma corrente de ar, pra me trazer o espírito fresco da criança que fui um dia, no tempo das flores brancas nos pés de jabuticaba. 

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