Me deu a ideia o Vagabundo Iluminado do poder que tem certas
brisas, a me contar um caso de vento lá do sul de Minas, que o levou a recordar
os tempos de menino, brincando a vontade no meio do mato. Que engraçado é este
acaso. Bem nessas épocas em que meu pensamento vira e mexe volta lá pro velho
quintal da casa que eu morei.
Andei pensando nas flores brancas das jabuticabeiras e no
zunido das abelhas, dezenas delas, fui lembrar que gostava mais do tempo das
flores que das próprias jabuticabas, mesmo que não desse pra subir em cima das
árvores, entupidas de insetos. Tudo branco, clima ameno, que bonito era o meu
jardim, e pelo menos uma vez ao dia se podia ouvir: Ai! Tina, trás o sal
amoníaco pra mim, fazendo o favor, pisei no marimbondo de novo! Nunca me
preocupei em calçar os chinelos pra brincar, tem certo tipo de dor que a gente
não se preocupa _ e nem deveria_ em evitar.
Mas a coisa não para por aí, sábado a chuva fez que caia dia
todo e não caiu, assisti aquela relutância de pernas pro ar dentro do quarto,
até me resolver que chovesse ou não eu ia fazer meu corpo correr um pouco pelo
parque. Encontrei o vizinho, joguei um pouco de fumaça pra dentro dos pulmões,
é raro quem concorde, mas este é o estado de consciência que mais me dá vontade
de correr por aí.
Chuviscou um pouco no principio e isso também atinou umas
sensações já velhas conhecidas, o pingo da chuva em cima da ponta do nariz e só
quem foi criança um dia pra entender o valor deste toque. Tão logo veio o vento
levar pra lá nuvens de chuva e sabe-se lá o que mais, novamente experimentei o
gozo de um rápido tele transporte, viajei ainda mais pra longe e me vi no
Parque Margarida, lá pra lá do mar nórdico, a correr do mesmo jeito nada
sóbrio, de quem se movimenta porque o impulso é o que salva e nada mais.
Corriam os pés e o pensamento e eu agradeci uma vez mais ao
vento, por estes encontros que propõem entre vadios que são amigos das palavras
e da gente, já que há dias em que basta-me de fato o presente, já em outros vou pedir carona a alguma corrente
de ar, pra me trazer o espírito fresco da criança que fui um dia, no tempo das
flores brancas nos pés de jabuticaba.
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