domingo, 26 de fevereiro de 2012

Reflexos


‘’Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma história.Nunca esquece a primeira vez em que sente o doce veneno da vaidade no sangue e começa a acreditar que se conseguir disfarçar sua falta de talento,o sonho da literatura será capaz de garantir um teto sobre sua cabeça,um prato quente no final do dia e aquilo que mais deseja:seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente vai viver mais do que ele.Um escritor está condenado a recordar esse momento porque,a partir daí,ele está perdido e sua alma já tem um preço.’’
Tirei essa passagem de um livro que li a poucos meses,O Jogo do Anjo,um bom livro por falar nisso.E se você quer saber,pra mim,independente de qual fosse a história escondida atrás dessa introdução,não seria justo dizer nada a menos que excelente.
Com esse primeiro parágrafo o livro já tinha me ganhado.E o porque,bem,eu me vi nele.Enxerguei o meu trajeto de um ano atrás,quando decidi que escrever não era apenas um capricho que me fazia bem,mas sim o meu jeito de ficar em paz com o mundo.
Sei que existem alguns remédios feitos por prescrição,em maior dosagem pra uns,mais brando pra outros,mas com a mesma essência.E foi mais ou menos assim que comecei a cogitar a hipótese de que o meu remédio,podia servir pra outras pessoas.
E que a mensagem,ás vezes torta ou mesmo distorcida que consigo deixar registrada num texto,podia valer pra outro alguém,mesmo que fosse só pra fazê-lo pensar no assunto,discordar de mim,fazer melhor do que eu pude.
Não há isso de se escrever bem ou mal,há apenas de escrever.O mundo tem caras e bocas demais pra entrar num consenso de bom ou ruim o tempo inteiro.
Mas garanto que a cada página que rasgo,letra que corrijo,critica que aceito,tento chegar o mais perto possível do simples.Sim,do simples,do fácil,leve e esclarecido.Que fizesse sorrir ou chorar num mesmo momento,captar a intenção,de imediato engolir o contexto e voltar a rotina como se nada tivesse acontecido.
O ponto final é a sentença,nada que uma mão humana seja capaz de fazer é perfeito.Sempre pode ser melhorado,sempre há de  existir o que se questione.O fim nunca é o fim de verdade,toda vez que uma história é passada adiante ela volta ao presente,e fica sujeita a continuação,porque a ideia que se tem dela,a interpretação  a que se chega é um forma de ir muito além de qualquer desfecho.
Me sinto grata por ter tido a chance de conhecer o prazer de ter meus contos constantemente continuados,em versões diferentes,por pessoas diferentes,algumas que talvez eu nunca a chegue a conhecer.Mas estão lá,vivas,acontecendo vezes e vezes na imaginação de quem se permitir.E se me contam essa história ‘’reformada’’ a,eu vejo o quanto ainda tenho que aprender,o caminho todo que tenho pela frente,porque a imaginação que tenho eu conheço,mas essas que me expõem são exatamente as que mais quero conhecer.


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