Eu adoro conhecer gente. Ver traços novos em rostos jamais
vistos, reparar brilhos em olhares que a pouco nunca se haviam cruzado,
perceber nuances de humor, de cultura, de tradição. Ouvir histórias inéditas,
ou mesmo as velhas sobre outro ponto de perspectiva. Adoro sotaques, tiques
nervosos, mania de pentear o cabelo pra direita, preferência de vinho, de
consenso político, de certo e errado, de bom, de ruim e de celebrar. Gosto
mesmo de conhecer gente, mas, tenho que dizer, ‘’descobrir’’ gente ainda é diversas
vezes melhor.
Conhecer pessoas não é tão difícil, basta uma curiosidade,
um sorriso no rosto, uma simpatia, um ambiente comum ou alguma coincidência
qualquer. Pode acontecer na fila do supermercado, no elevador do prédio, na
mesa de lado do bar, no banco do lado no ônibus, pela internet ou no meio da
estrada de chão com um ukulelê nas costas (sim), e quantos outros mais milhares
de possibilidades. Mas descobrir gente é mais difícil, mais profundo também é
claro. É que primeiro a gente cobre: de perguntas, de afeto, de presença _ que
dia a dia se torna mais freqüente, mais harmoniosa, mas querida_. E depois a
gente descobre: uma cicatriz de uma travessura na infância, a comida preferida,
o nome do avô, um desacordo, as histórias com os melhores amigos ( e depois
propriamente os melhores amigos), o primeiro amor e aquele que a pessoa sente _
todos sentem algum amor, mesmo os que já estão sós a muito tempo, adormecidos
ou despertos, os amores escondidos dos outros ,que nos vem a súbito pouco a
pouco, são um ótimo diagnostico para saber que se está verdadeiramente entrando
no universo de alguém _.
Descobrir alguém é pedir uma sobremesa bem gostosa, partir
no meio mais exato, dividir as moedinhas, os sorrisos as interjeições (doces) e
saber que jaz criada uma lembrança. Curtinha. Singela. Sincera.
É ter vontade genuína de registrar a companhia, guardando
palhetas de violão, conchinhas, terços de mão, bilhetes de cinema, de museu ou
de trem, se dispor a ter a sorte de uma foto que ao ser vista (e revista uma
dezena de vezes) e pensar: que delicia, de dia, de lugar e de pessoa.
Estar descobrindo alguém nos modifica sempre um pouco, ir
compreendendo as distancias e as afinidades, os limites da intimidade, os
defeitos, os trejeitos, as genialidades. É como se surpreender até certo ponto
com algumas ações, e se sentir acostumado já o suficiente para entender algumas
outras reações. É ser solidário com a diferença do outro, preservar a própria
distinção e mesmo assim ter vontade de convidar a pessoa pra dar um passeio por
aí, ou assistir um filme no notebook, de perguntar como foi o dia (ou já
sabê-lo por se estar junto).
Aquela oportunidade que a vida sugere pra que a gente
conheça em um só alguém bem mais de um só jeito de sorrir, como caem as
lágrimas ou porque é que afinal elas nunca se permitem cair, é compartir
impulsos e se sentir seguro para lidar com desencontros que quando vem, são pra
mostrar que o encontro existe e que se deve prezar por ele, com respeito, com
apreço, com paciência. Ter e reconhecer a paciência do outro. Ser grato pro
isso, porque ser grato é o mais justo a se fazer quando o acaso nos dá alguém a
quem estudar os gestos e corresponder aos estímulos.
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