sexta-feira, 3 de abril de 2015

Nem todos os tempos são pra se medir, menino

Não levei muito tempo para descobrir como na verdade todos temos um pouco em comum, um pouco até demais diga-se de passagem. Eu, você, e alguém lá do outro lado do mundo, todos nós passamos por experiências únicas, e talvez tenhamos um infinitude de interpretações diferentes, baseadas em nossas culturas, nossas origens, e na maneira singular e irrepetível de como pensamos e ocupamos o mundo com nós mesmo.
Mas ademais de todas esses detalhes que nos compõe, e comumente nos fazem discordar e concordar acerca de muitos pontos, somos humanos no final. É, nós somos gente, e gente mesmo, de carne e osso, massa cinzenta, coração pulsante, e a necessidade insubstituível de respirar ar puro, beber água límpida e atravessar fronteiras. Sem isso vamos sucumbindo, pouco a pouco, negar isso a alguém é nega-lo como humano. Mas o que vim falar aqui hoje, não é a respeito dos direitos humanos como um todo, apesar de que, estes muito me interessam, e tenho o compromisso interno de respeitar e lutar por eles o quanto puder. O que vim falar hoje, é sobre uma real demanda humana, tantas vezes sucumbida pelo cotidiano, pela sociedade, ( pela modernidade?!) e por relações pesadas. Eu escolhi falar sobre o tempo.
Este tempo ao qual me refiro, não é aquele nosso velho conhecido que é marcado por horas, minutos e segundos; nem sobre fases especificamente, sobre eras, ou sobre a forma como usamos o rodopiar da própria Terra e da Lua para delimitar ciclos. Eu falo do tempo incontável, imprescindível e nada palpável, falo do tempo de cada um, o tempo que da mesma maneira que é cobrado de cada ser vivo no instante em que é gerado, também lhe é concedido, pra ser só eu, e respeitar somente as leis e os marcos de sua própria natureza.
As flores de maio, agora perto de florir, só nos dão o privilégio de sua companhia uma vez ao ano, por todo um mês. Os ipês de meu amado cerrado, aparecem prenunciando a primavera, e ficam conosco enquanto ela durar, cerca de três meses, e isto é uma estação. Mas ao contrário das flores, não sabemos o momento exato de florir, não nos foi dada a obrigação de corresponder a um ciclo, e ser verão ou outono em prazos pré-definidos e inquebráveis. Nós podemos florir por um ano inteiro, da mesma forma como pode chover em nós por anos e anos. Eu achei não conhecer um inverno rigoroso, mas meses atrás eu o vi em mim, e isso me fez feliz. Me fez feliz porque ser gelado é melhor do que ser deserto, e ter montes de neve em cima de um solo fértil e ávido por calor é só uma maneira da natureza, de renovar a vontade da terra de se reencontrar com o sol, e quando isso acontece ... eu não preciso dizer, mesmo pra nossa fauna que é poupada de neve, ver os pingos de água na terra sedenta, já é sentir o verde, que pela manhã já há de ressurgir. Eu soube naquele momento que voltar a florir era o inevitável, mas no momento certo.
Aos que muito esperam, por dias melhores, por oportunidades grandes, por um lugar no coração de alguém, ou pelo que quer que seja: não façam da sua impaciência um jeito de se impedir de ser feliz com o que já se tem. Tempos difíceis, crises e corações fechados, provavelmente eles não escolheram ser como são, e se pudessem deixariam de sê-lo o quanto antes. Lembro que quando menina, injuriada pela demora que minhas mudinhas faziam para crescer, minha mãe me disse para que conversasse com elas todos os dias, as regasse, colocasse ao sol pela manhã e acompanhasse calmamente seu desenvolvimento. Tão logo meus vasinhos estavam repletos de brotos.
Depois disso foi comigo, a vida inteira. Vigiar casulos por semanas, para pelo menos uma vez na vida ver o despertar de uma borboleta_e eu consegui_, aguardar resultados, insistir ''delicadamente'' em causas e pessoas.
Amor é deixar o tempo de cada um falar por si mesmo. É um direito que não se deve negar a ninguém. E eu que tão ansiosa e passional me flagro ás vezes, dou uma pausa ao mundo para dizer: sente-se aí, tome um café, e aguarde, depois de feita a sua parte, o tempo, aquele que é seu, se encarregará de todo o mais.

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