domingo, 4 de maio de 2014

Correria

Eu não sei se é certo fazer como faço, um momento de loucura sóbria entre um milhão de conscientes loucuras. Loucura consciente é aceitar que nada é fácil e acordar mesmo tendo sono,levantar mesmo tendo preguiça,é agir mesmo estando desmotivado,é cumprir horários mesmo tendo que correr para não se atrasar.Loucura é repetir pra si mesmo que as coisas são assim e que assim vão ser,é pagar caro por coisas que não valem nada, é aceitar calado por gritos que não se merecia ouvir, é respeitar regras que não fazem sentido, imitar atitudes que não combinam consigo, loucura é existir sem viver ,tomando goles de café e fazendo contas das contas a se pagar.
Mas loucura sóbria é outra coisa, é quando a gente ignora as conversas vazias, é quando a gente engole as palavras duras mas as coloca em um lugar dentro de nós onde elas deixam de importar imediatamente após o momento em que são ditas.Loucura consciente talvez seja uma dose a mais, um sorriso verdadeiro , é uma música que tocou na rádio e a gente aumenta o volume pra cantar junto. Loucura consciente é escrever,é acreditar que por algum motivo,não importa o quanto as coisas estejam duras,difíceis e confusas,tudo vai dar certo,simplesmente porque tem que dar. Loucura consciente é deixar acontecer, é não levar em conta o dia pesado e simplesmente deitar a cabeça no travesseiro e dormir,e sonhar,e perder o horário,e correr rindo de si mesmo com a camisa manchada de café.
A tênue diferença que separa as duas loucuras das quais falei não é necessariamente que uma seja  seguir e na outra quebrar uma rotina,viver é naturalmente a quebra e o seguimento de ciclos,novos e velhos,a ordem do mundo é ter o seu sistema e depois quebrá-lo quando assim lhe aprazer.  A diferença está em que ao se despir de si, apenas para fazer o que tem que ser feito,da maneira como todos fazem,e não como você é,como se sente,como faria se ninguém o estivesse observando,você está limitando o viver a existir,está enlouquecendo sem saber,e concordar com o fato de que  o respirar e o bater contínuo de seu próprio coração são um câncer,um vazio que cresce até que se feche os olhos para sempre,sem sentir o luto de estar morrendo,e nem celebrar a dádiva do viver que ainda lhe é permitido.
A loucura sóbria é fazer sim o que for necessário,talvez dançar mesmo conforme toca a música,mas do seu jeito,no seu tempo,é se dar o direito de ser feliz em meio a isso tudo,é tentar arduamente até encontrar uma maneira de ficar contente em meio a esse caos diário com que se tem que coexistir.
Ter coragem de fazer aquilo que queremos,de propósito,é ser são ainda que maluco,é ser alegre ainda que perturbado,é viver mesmo com uma dor de cabeça,boletos e prazos te matando. Não tem problema perder a paz,a paz embora poucos saibam não é algo para se ter e guardar,mas sim algo para alcançar e sentir,até perder e ter que buscar por ela de novo.O equilíbrio é algo que se tem depois de milhares de combinações,fracassadas,meio e bem sucedidas. Não há mal nenhum em entender o mundo,sem sucumbir a ele.

Me proponho a opção de ser feliz,e,prometo que farei feliz também sempre que puder.Eu vou ser tola para os sérios,infantil para os fechados,invisível aos soberbos e querida por quem vier a me querer,com todos os defeitos que tenho e qualidades que deixo de ter,mas vou ser eu,cantando pras paredes ou para uma multidão,aos prantos numa noite de domingo ou as gargalhadas numa quinta feira de madrugada,vou ser eu,com toda a minha solidão,inteira ou disfarçada nos braços de alguém.Só quero ser feliz,vou ser mais conscientemente louca também.

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